Corda Nova

O espetáculo Corda Nova traz em seu repertório obras da chamada música clássica, ou de concerto, contemporânea. Dito de outra forma, os compositores das obras são todos de nosso tempo. Esse aspecto, além de revelar um tratamento artístico de questões da atualidade, nos informa sobre o modo como a tradição da música de concerto permanece viva até hoje.

O repertório inédito, escrito originalmente para quarteto de violões, inclui músicas de importantes compositores ligados à Universidade Federal de Minas Gerais, os professores Sérgio Freire e Rogério Vasconcelos e seus ex-alunos Rafael Nassif e Stanley Levi. Nesse contexto, o público escuta os violões em sua total potencialidade sonora, e é surpreendido por recursos técnicos inesperados como sons percussivos e utilizações criativas do instrumento. Tudo conflui para trazer o ouvinte para um universo novo, de música e ruído.

O espetáculo aqui proposto não é apenas musical, incluindo, ainda, um cuidadoso trabalho cênico, de figurino, de arte gráfica, etc.

O quarteto de violões Corda Nova é formado pelos músicos Ivan Martins, Ricardo Jamal, Ricardo Marçal e Stanley Levi, todos egressos da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.

Programa

… os instrumentos musicais colocam nas mãos do mágico, parcelas de todos os reinos naturais: são feitos de bambus, de côcos de algumas frutas, de metal, de madeira dura, de pedras (sonoras), de peles de animais, de cascos, de ossos, de chifres, de sêdas, de palhas torcidas, de crinas, de tripas…; eles formam um resumo do cosmos”.
Combarieu

O que é um instrumento musical?

E o que é um corpo humano, quando carrega um instrumento musical e com ele se entrelaça, percutindo seu corpo, sua pele, pinçando suas cordas, friccionando-as, dedilhando-as, esfregando-as…?

E mais ainda: o que pode ser esta terceira entidade, um corpoinstrumento?

Se inicialmente os temos como próteses dos corpos humanos, ampliadores de seus orifícios ressonantes, extensões de seus braços, das suas cordas vocais, das suas unhas, os instrumentos de música podem tudo inverter: fazer dos corpos humanos suas próteses, como corpos desejantes, que se modelam, se disciplinam e se forjam para fazê-los vibrar.

Quando a entidade corpoinstrumento entra em vibração sonora, não há mais origem e volição. Suspendem-se as conexões ordinárias: nem corpos, nem órgãos, nem instrumentos, nem membros, nem humanos e nem ponto de origem do sonoro. O que este projeto inaugural do Corda Nova nos proporciona é uma experiência desta ordem.

Os quatro compositores convidados a compor as obras que estréiam nesta mesma ocasião em que ouvimos e vemos soar pela primeira vez esta rara formação, viram de certa forma ao avesso os quatro violões-violonistas, e revelam sonoramente os espaços obscuros de seus corpos: como epifanias.

Em Música para 24 cordas, é de um só corpoinstrumento que se trata: 24 cordas, 40 dedos, e tantas mais cavidades ressonantes. Um hiperinstrumento com suas propriedades acústicas amplificadas e seus gestos musicais desdobrados: arpejos multiplicados em cascatas e desencontrados, ressonâncias prolongadas, blocos sonoros refratados, pedais espacializados e defasados. Ouvimos então um único corpoinstrumento capaz de multiplicar magicamente o espaço acústico.

Em Silhuetas de uma dança imaginária, os corposinstrumentos se projetam em inúmeros devires, como sabem ser os corpos quando dançam. Um devir-felino, por exemplo, quando, por instantes, um corpo se torna Todo-Unha. Danças infinitesimais, movidas por quase-sons, quase-gestos, quase- escutas, contatos milimetricamente experimentados.

Como ouvir o silêncio na ressonância? Tensibília II, esta peça de dinâmicas predominantemente suaves, descola no entanto da fonte sonora uma potente reverberação de sons harmônicos, buscada na mais sutil e ancestral arte da harmonia. A reverberação vagueia pelo teatro, entre as pessoas, pelos cantos entre as paredes e, pouco a pouco, teatro, crânios, ventres, caixas de violões, tornamo-nos todos receptáculos vibrantes, intensamente suspensos na delicadeza das figuras musicais e dos gestos violonísticos.

E por fim, as Cenas infantis, sonorizam a dúvida de uma cena (ou proto-cena, como nas palavras do compositor) – labor ou brincadeira musical? – e exteriorizam a insurreição de corpos disciplinados para a Música. Demonstrações de que os corpos não se calam necessariamente para que os instrumentos soem, de que os repertórios de gestos violonísticos não se esgotam. As cenas constam de travestimentos das vozes, de travestimentos dos violões, preparados com matérias que alteram suas sonoridades, de palhetas de sonoridades possíveis mas inusitadas, de jogos de adensamento e diluição sonora e espacial.

A vertigem da escuta é a do encontro com o invisível. O Corda Nova veio fazer vibrar estas outras cordas, invisíveis.

Fotos

Peças Gráficas

Clipping

Making of

Músicas




Especificações Técnicas

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